Porque viver a castidade?
Jesus Cristo é o verdadeiro sacerdote e
foi celibatário; então, a Igreja vê Nele o Modelo do verdadeiro
sacerdote que, pelo celibato se conforma ao grande Sacerdote. Jesus
deixou claro a sua aprovação e recomendação ao celibato para os
sacerdotes, quando disse: “Porque há eunucos que o são desde o ventre
de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há
eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus.
Quem puder compreender, compreenda.” (Mateus 19,12)
Nisto Cristo está dizendo que os
sacerdotes devem assumir o celibato, como Ele o fez, “por amor ao Reino
de Deus”. O sacerdote deve ficar livre dos pesados encargos de manter
uma família, educar filhos, trabalhar para manter o lar; podendo assim
dedicar-se totalmente ao Reino de Deus. É por isso que desde o ano 306,
no Concilio de Elvira, na Espanha, o celibato se estendeu por todo o
Ocidente, até que em 1123 o Concílio Universal de Latrão I o tornou
obrigatório.
É preciso dizer que a Igreja não impõe
a celibato a ninguém; ele deve ser assumido livremente, e com alegria,
por aqueles que têm essa vocação especial de entregar-se totalmente ao
serviço de Deus e da Igreja. É uma graça especial que Deus concede aos
chamados ao sacerdócio e à vida religiosa. Assim, o celibato é um sinal
claro da verdadeira vocação sacerdotal.
No inicio do Cristianismo a grandeza do
celibato sacerdotal ainda não era possível; por isso São Paulo escreve
a Timóteo, que S. Paulo colocou como bispo de Éfeso, dizendo: “O
epíscopo ou presbítero deve ser esposo de uma só mulher” (1Tm 3, 2).
Estaria, por isto, o padre hoje obrigado a casar-se? Não. O Apóstolo
tinha em vista uma comunidade situada em Éfeso cujos membros se
converteram em idade adulta, com muitos já casados. Dentre esses o
Apóstolo deseja que sejam escolhidos para o sacerdócio homens casados
(evitando os viúvos recasados). Já no ano 56, São Paulo, que optou pelo
celibato, escrevia aos fiéis de Corinto (1Cor 7,25-35) enfatizando o
valor do celibato: “Aos solteiros e às viúvas digo que lhes é bom se
permanecessem como eu. Mas se não podem guardar a continência que se
casem”. (1Cor 7,8). “Não estás ligado a uma mulher? Não procures
mulher”. O Apóstolo se refere às preocupações ligadas ao casamento
(orçamento, salário, educação dos filhos…). E Paulo enfatiza:
“Quem não tem esposa, cuida das coisas
do Senhor e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma
forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a
fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida
das coisas do mundo; procura como agradar ao marido”. “Procede bem
aquele que casa sua virgem; aquele que não a casa, procede melhor
ainda” (1Cor 7, 38). A virgindade consagrada e o celibato não tinham
valor nem para o judeu nem para o pagão. Eles brotam da consciência de
que o Reino já chegou com Jesus Cristo.
O último Sínodo dos Bispos sobre a
Eucaristia, confirmou o celibato e o Papa Bento XVI expressou isso na
Exortação Apostólica pos-sinodal, “Sacramentum Caritatis”, de 22 fev
2007. Disse o Papa:
“Os padres sinodais quiseram sublinhar
como o sacerdócio ministerial requer, através da ordenação, a plena
configuração a Cristo… é necessário reiterar o sentido profundo do
celibato sacerdotal, justamente considerado uma riqueza inestimável e
confirmado também pela prática oriental de escolher os bispos apenas de
entre aqueles que vivem no celibato (…) Com efeito, nesta opção do
sacerdote encontram expressão peculiar a dedicação que o conforma a
Cristo e a oferta exclusiva de si mesmo pelo Reino de Deus. O fato de o
próprio Cristo, eterno sacerdote, ter vivido a sua missão até ao
sacrifício da cruz no estado de virgindade constitui o ponto seguro de
referência para perceber o sentido da tradição da Igreja Latina a tal
respeito. Assim, não é suficiente compreender o celibato sacerdotal em
termos meramente funcionais; na realidade, constitui uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo.
Antes de mais, semelhante opção é esponsal: a identificação com o
coração de Cristo Esposo que dá a vida pela sua Esposa. Em sintonia com
a grande tradição eclesial, com o Concílio Vaticano II e com os Sumos
Pontífices meus predecessores, corroboro a beleza e a importância duma
vida sacerdotal vivida no celibato como sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus,
e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade para a tradição
latina. O celibato sacerdotal, vivido com maturidade, alegria e
dedicação, é uma bênção enorme para a Igreja e para a própria
sociedade.”(n.24) O Mahatma Ghandi, hindu, tinha grande apreço pelo
celibato. Ele disse: “Não tenham receio de que o celibato leve à
extinção da raça humana. O resultado mais lógico será a transferência
da nossa humanidade para um plano mais alto… “Vocês erram não
reconhecendo o valor do celibato: eu penso que é exatamente graças ao
celibato dos seus sacerdotes que a Igreja católica romana continua
sempre vigorosa”. (Tomás Tochi, “Gandhi, mensagem para hoje”, Ed.
Mundo 3, SP, pp. 105ss,1974)
Alguns querem culpar o celibato pelos
erros de uma minoria de padres que se desviam do caminho de Deus. A
queda desses padres no pecado não é por culpa do celibato, e sim por
falta de vocação, oração, zelo apostólico, mortificação, etc; tanto
assim que a maioria vive na castidade e por uma longa vida. Quantos e
quantos padres e bispos vivendo em paz e já com seus cabelos brancos!
O casamento poderia trazer muitas
dificuldades aos sacerdotes. Não nos iludamos, casados, eles teriam
todos os problemas que os leigos têm, quando se casam. O primeiro é
encontrar, antes do diaconato, uma mulher cristã exemplar que aceite as
muitas limitações que qualquer sacerdote tem em seu ministério. Essa
mulher e mãe teria de ficar muito tempo sozinha com os filhos. Depois,
os padres casados teriam de trabalhar e ter uma profissão, como os
pastores protestantes, para manter a família. Quantos filhos teria?
Certamente não todos que talvez desejasse. Teria certamente que fazer o
controle da natalidade pelo método natural Billings, que exige
disciplina. A esposa aceitaria isso?
Além disso, podemos imaginar como seria
nocivo para a Igreja e para os fiéis o contra-testemunho de um padre
que por ventura se tornasse infiel à esposa e mãe dos seus filhos! Mais
ainda, na vida conjugal não há segredos entre marido e mulher. Será que
os fiéis teriam a necessária confiança no absoluto sigilo das
confissões e aconselhamentos com o padre casado? Você já pensou se um
dos filhos do padre entrasse pelos descaminhos da violência, da
bebedeira, das drogas e do sexo prematuro, com o possível
engravidamento da namorada?
Tudo isso, mas principalmente a sua
conformação a Jesus Cristo, dedicado total e exclusivamente ao Reino de
Deus, valoriza o celibato sacerdotal..
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br
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